Feio, eu?
de Silvana Tavano e Mariana Demuth
Com quantos olhos a gente se vê? Como construímos nossa própria imagem? Como isso afeta nossa identidade? O que é mesmo feio? Essas são algumas das tantas perguntas que Feio, eu? sugere. Mas, ainda pode haver outras a serem descobertas nas camadas dessa floresta densa, onde o coelho mais branco e doce procura algo que possa ajudá-lo a enxergar a si mesmo.
Feio, eu? é, num primeiro olhar, uma história singela: um coelho diz a outro: Como você é feio! E imediatamente o coelhinho ofendido parte numa jornada pela floresta, perguntando a outros animais se isso é verdade. Mas essa é apenas uma primeira – e ingênua – impressão: na verdade, este é um livro em que tudo converge para a criação de múltiplos significados, como pede um bom livro-álbum (ou livro ilustrado, como alguns especialistas preferem chamar esse tipo de livro).
A narrativa já começa na capa, com o coelho que se dirige ao leitor e pergunta: Feio, eu?, abrindo a folhagem para se fazer ver. O verso da capa traz o lago – uma referência a Narciso? –, onde se vê uma pequena aranha se escondendo, e que, como o fio da história, acompanha o leitor na tessitura do significado. Uma virada de página, e o coelho diante do lago, encara o leitor. Atrás dele, a floresta escura se apresenta. Na próxima dupla de páginas, a referência a Narciso se confirma. Mas são dois os coelhos, que espelhados, observam seu reflexo na água. São eles um só coelho? Ou são dois idênticos? E aquilo que veem é realmente espelho de sua imagem? O movimento sutil da água gera distorção na figura: será que podemos nos ver como somos vistos pelos outros?
Todas essas perguntas, e tantas outras que essa sequência de imagens mergulhadas em silêncio evocam, são suspensas com a provocação daquele que parecia espelho. Mas, era outro, então? Ao virar as páginas, a repetição da pergunta “Você me acha feio?” provoca respostas permeadas de um toque sutil de humor, com visões das mais distintas. A coruja que vê mal, o bicho-preguiça que não acordou totalmente, a girafa que só vê a si mesma e assim por diante, até que o coelho se depara com a aranha e a pergunta é devolvida para ele, mas de outra perspectiva.
A escolha da aquarela na produção contribui imensamente para a construção de significado do livro: camadas e manchas que geram indefinição e diferentes sentidos enquanto também remetem à construção do eu, àquelas camadas que, muitas vezes, escondem o que há de mais genuíno em cada um. A delicadeza e fluidez da tinta reitera questões tão profundas e sensíveis. Um livro que nos faz refletir sobre a necessidade de validação externa, sobre a construção de nossa identidade e autoimagem. Um livro que trata também da diversidade e de como as relações nos moldam e qualificam ao mesmo tempo em que se abre para outras leituras.
Silvana Tavano e Mariana Demuth criaram uma história em que palavra e imagem constroem o caminho que levará o leitor a essas e, possivelmente, várias outras reflexões enquanto passeiam por sua densa floresta.
Sobre as autoras:
Silvana Tavano nasceu em São Paulo, onde mora até hoje. É escritora e jornalista. Colaborou com uma série de revistas e hoje se dedica à literatura. Entre seus mais de vinte livros publicados destacam-se: Psiuuuuuuuuuuu (ganhador do prêmio João de Barro em 2011), Longe (ambos da editora Salamandra) e Onde você mora? (Ozé editora).
Mariana Demuth nasceu no Espírito Santo e hoje mora em São Paulo. É arquiteta e tem mestrado em design. Feio, eu? é seu primeiro livro.
Feio, eu?
Texto: Silvana Tavano
Ilustrações: Mariana Demuth
32 páginas
4 x 4 cores
16 x 21 cm
Isbn 978-65-86167-01-6
Livro-álbum
Para leitores iniciantes e autônomos